Blog de Casa

Um livro por vez 03 – Escravidão

Por Alcir Santos

 

Leitura indispensável até para quem não está muito interessado na História do Brasil. Ocorre que o livro vai além. Além de insuperável aula sobre como se formou o povo e a cultura dos brasileiros é também uma espécie de tratado sobre um dos mais tristes capítulos da história da humanidade. Guardadas as devidas proporções, forma, com O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, um par de livros imprescindíveis ao entendimento da formação do povo e, sobretudo, das inúmeras questões pendentes no âmbito socioeconômico e cultural, num país que teima em viver um permanente clima de confronto.

Pois bem, Laurentino Gomes, neste primeiro volume da trilogia, em capítulos bem definidos e integrados relata, lastreado em farta bibliografia, além de pesquisa de campo, em fontes primárias e secundárias, o que foi o processo de escravidão no mundo, desde os tempos mais remotos, até atingir o caráter de atividade econômica relevante, levando, de roldão, culturas e sociedades inteiras, a exemplo dos nativos brasileiros e, também, de etnias e sociedades africanas. Cabe destacar, sempre de acordo com Laurentino, que esse processo, iniciado no século XV e que chegou até o XIX, teria sido o mais constante e ordenado de toda a história. Em função dele é que foi possível implantar, desenvolver e manter culturas  e atividades econômicas como cana de açúcar, café e exploração mineral como ouro e prata, nas Américas, incluindo Caribe.

Aos desavisados fica um alerta. A leitura não é amena. Não. Muito pelo contrário, tem capítulos terríveis, relatos que nada ficam a dever aos que sabemos dos campos nazistas e stalinistas. Amigos preferiram deixar a leitura para depois da quarentena. Nesses tempos de ansiedade e angústia talvez seja uma opção sensata. Mas isso não implica dizer que o livro não deva ser lido. Muito pelo contrário. Deve ser lido, sim. E que cada leitor exercite seu senso crítico, a partir da sua formação cultural. Afinal a imagem de instituições como a Igreja Católica, os Jesuítas e de figuras quase míticas como Nóbrega e Vieira saem bem tisnadas das páginas do livro. Isso sem falar dos governadores gerais, bandeirantes e outros menos votados.

Um livro, portanto, que deve ser lido e guardado para consultas eventuais e empréstimos a quem tenha o hábito de devolver.

 

*Alcir Santos é juiz aposentado do TJBA